terça-feira, 17 de março de 2015

Madres de Plaza de Mayo

Mães argentinas protestando na Playa de Mayo em Buenos Aires

Durante a Ditadura Militar na Argentina, 1976 - 1983, o governo seqüestrou, torturou e matou os militantes de esquerda e todos aqueles que se afirmavam contra o regime, a maioria deles eram jovens estudantes que tentavam expressar suas insatisfações com o governo vigente. As pessoas seqüestradas foram tomadas como “Desaparecidas” e o governo passou a omitir ou eliminar qualquer registro que pudesse ajudar as famílias a encontrar os corpos de seus parentes. Além disso, qualquer discussão sobre o assunto era proibida no país. (WOMEN IN WORLD HISTORY CURRICULUM, 1996).
Entretanto, em razão do desaparecimento de seus filhos, um grupo de mães começou, no dia 30 de Abril de 1977, a organizar reuniões todas as quintas-feiras, na grande Plaza de Mayo, em Buenos Aires, com a finalidade de descobrir onde estes jovens estavam e evitar que eles fossem torturados. Elas carregavam fotos dos desaparecidos e usavam lenços brancos remetendo à memória das fraldas de seus filhos e simbolizando a paz. (PONZIO). Este foi o primeiro movimento contra a brutalidade do regime, um movimento sem violência, que foi crescendo e chamando a atenção internacional. (WOMEN IN WORLD HISTORY CURRICULUM, 1996).
Alguns grupos de Direitos Humanos se reuniram para ajudar essas mães a abrir um escritório, onde elas podiam publicar seus próprios jornais e aprender a fazer discursos. Assim, tornou-se cada vez mais difícil para o governo ignorar a presença deste grupo, que como mães, apresentaram um poderoso símbolo moral que se transformou ao longo do tempo, passando de “mulheres que procuravam proteger seus filhos”, para “mulheres que desejavam transformar o Estado de modo a refletir seus valores maternos”. (WOMEN IN WORLD HISTORY CURRICULUM, 1996).

Mulheres desafiando o poder

As Madres de Plaza é um dos mais importantes movimentos femininos em que se apresentam os questionamentos acerca da política ditatorial na Argentina. É importante destacar que a maior parte das integrantes deste grupo eram donas de casa, marcando a presença da esfera privada no espaço público. Alguns livros se destacam por apresentar informações relevantes sobre o movimento, dentre eles, Las Locas de Plaza de Mayo (1983) do jornalista francês Jean Pierre Bousquet. Neste livro, o autor relata a história dessas mães, apresentando depoimentos e recortes de notícias oficiais da época, destacando a necessidade dessas mulheres de serem vistas e terem seus direitos atendidos. (PONZIO, 2007).
Com o aumento das integrantes, inicialmente com 14 mulheres passando para mais de 200, as Madres procuram investir cada vez mais em seus papéis políticos e sociais. É através de seus testemunhos que os assassinos de seus filhos e de outras Madres desaparecidas puderam ser condenados, tornando-se assim um elemento precursor para se atingir a democracia, baseado no enraizamento de um princípio de reparação e de justiça. O corpo dessas mulheres em luta reflete uma imagem afetiva presente na maternidade, o que vai contra a lógica masculina que opõe razão e desejo. (PONZIO, 2007). Deste modo, o que se percebe na luta das Madres é um “poder oriundo da transgressão, ao permitir-lhes atuar como uma força subversiva, contrária à hegemonia representada pela figura masculina do poder”. (PONZIO, 2007, p.3). 
Assim, ao desafiarem o poder, elas incorporam uma imagem política através da conscientização de sua presença como paradigma de sua resistência, fazendo o uso, principalmente, de questões de gênero como estratégia de combate e sobrevivência em meio a um regime opressor. (DUARTE, 2007, p. 2).

Bibliografia:

DUARTE, Ana Rita Fontelles. Nem loucas, nem santas. Universidade Federal de Santa Catarina. Revista Estudos Feministas, vol 15, n.3. Florianópolis, 2007.
PONZIO, M. F. G. de A. A praça da memória: o cenário das Madres de Plaza de Mayo. Revista Palimpsesto, Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <Bibliografia I> Acesso em: 15 Mar. 2015
WOMEN IN WORLD HISTORY CURRICULUM. Speaking Truth to Power Madres of the Plaza de Mayo. 1996. Disponível em: <Bibliografia II>. Acesso em: 15. Mar 2015.

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