terça-feira, 7 de abril de 2015

Nísia Floresta: Uma mulher à frente de seu tempo

Dionísia Gonçalves Pinto, mais conhecida como Nísia Floresta, nasceu em 1810, em Papari, no Rio Grande do Norte.  Aos 13 anos de idade, casou-se com um proprietário de terras, mas em poucos meses o abandonou e voltou a residir com seus pais. Aos 17 anos, residindo em Recife, seu pai, um advogado que costumava contrariar os interesses da elite de Olinda, foi assassinado. Este fato mudou completamente a vida de Nísia, que se casou com um jovem estudante de Direito, chamado Augusto, que viria a falecer em 1833, deixando-lhe dois filhos. (CASTRO, 2010). Em 1831, Dionísia estreou como escritora em um jornal de Pernambuco, denominado Espelho das Brasileiras. Lá, ela começou a tratar principalmente das condições femininas, sendo por isto considerada precursora do feminismo no Brasil. (CAMPOI, 2011).
Em 1835, fundou o Colégio Augusto, no Rio de Janeiro, dedicado somente à educação feminina. Este colégio se mostrou pioneiro em suas propostas pedagógicas, oferecendo uma educação para as mulheres no mesmo nível que aquela oferecida para os homens. Assim, Nísia foi não só escritora, mas também educadora, em uma época em que as mulheres viviam sob intensa repressão em uma sociedade patriarcal, que negava a mulher o direito a qualquer tipo de ascensão social. (CASTRO, 2010).

As atitudes, ideias e escolhas de Nísia Floresta revelam a enorme discrepância existente em relação ao comportamento desta se comparado ao de suas contemporâneas.  Alguns elementos importantes nesta comparação devem ser considerados, como identidade de gênero, posição social e identidade étnica, pois podiam definir as expectativas para as mulheres brasileiras do século XIX. (CAMPOI, 2011). Segundo Gilberto Freyre, citado por Campoi, Nísia era:

Verdadeira machona entre as sinhasinhas dengosas do meado do século XIX. No meio dos homens a dominarem sozinhos todas as atividades extra-domésticas, as próprias baronesas e viscondesas mal sabendo escrever, as senhoras mais finas soletrando apenas livros devotos e novelas [...], causa pasmo ver uma figura de Nísia (FREYRE, 1996, p.109).

           Como educadora Nísia defendeu sua posição através de textos dedicados a temáticas femininas, publicando no decorrer de 1847, três obras: Fany ou modelo das donzelas, Discurso que às suas educandas dirigiu Nísia Floresta e Daciz ou a jovem completa. No entanto, é em seu outro livro, intitulado Opúsculo Humanitário, 1853, que encontramos seu pensamento melhor desenvolvido acerca da educação feminina e também sobre o ensino de maneira geral. Neste livro, a autora critica o sistema de ensino, especificamente o feminino, se posicionando contra o governo perante a falta de um direcionamento educacional para as mulheres. Ela também denunciava algumas escolas da Corte, que eram comandadas por estrangeiros, que, de acordo com Nísia, eram em sua grande maioria, despreparados para atuarem no setor da educação. As críticas também se estendiam ao modo como a educação era conduzida para as mulheres, proporcionando-lhes apenas uma capacitação razoável para leituras de textos religiosos, o estudo da língua pátria, aritmética, religião, bordado e costura. (CAMPOI, 2011).
           Percebe-se que todas as incumbências acima estão relacionadas ao âmbito privado, que ostentavam habilidades relacionadas a regras de etiqueta e à arte recreativa. Havia ainda algumas poucas que aprendiam dança, canto, francês e literatura, mas tudo estava relacionado à breve inserção dessas mulheres, de classe mais alta, no círculo social do marido, do pai ou dos irmãos.Assim, quando Nísia comandou o Colégio Augusto (1838-1856), ela encontrou grandes dificuldades, já que sua proposta curricular incomodava a sociedade patriarcal, como o ensino do latim, por exemplo, matéria considerada inadequada para as mulheres. (CAMPOI, 2011).
Apesar de toda a oposição, principalmente da imprensa, as ideias de Nísia contribuíram para o avanço das propostas educacionais no que concerne ao ensino feminino. Hoje, as mulheres já possuem acesso à educação, constituindo-se maioria em alguns cursos superiores do Brasil e representando a maioria no ensino fundamental a partir da 5ª série. Deste modo, o acesso das mulheres a uma educação de qualidade é fruto da presença de figuras femininas como Nísia, que ousaram lutar e desafiar os paradigmas de sua época em prol de seus direitos. (ALBERTON; CASTRO; EGGERT, 2010).

Bibliografia:


ALBERTON, Mirele; CASTRO, Amanda Mota Angelo; EGGERT, Edla. Nísia Floresta a mulher que ousou desafiar sua época: Feminismo e Educação. VIII Congresso Iberoamericano de Ciência, Tecnologia e Gênero, 2010.
CAMPOI, Isabela Candeloro. O livro “Direitos das mulheres e injustiça dos homens” de Nísia Floresta: literatura, mulheres e o Brasil do século XIX. História, São Paulo. v. 3; n.2. 2011.
CASTRO, Luciana Martins. A Contribuição de Nísia Floresta para a educação feminina: pioneirismo no Rio de Janeiro oitocentista. v. 7; n. 10, 2010.

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